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O presidente
Bolsonaro desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que
seriam destinadas à saúde, ciência e educação para agregar
metade
do valor ao “orçamento secreto”. (Foto: Rodrigo Paiva/Getty
Images) |
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Bolsonaro pode ser o autor do
maior esquema de corrupção da história do Brasil |
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Em
5 de outubro de 2022, o presidente Bolsonaro
desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que seriam
destinadas à saúde, ciência e educação para
agregar metade do valor ao “orçamento secreto” |
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10/10/2022 |
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O
argumento de combate à corrupção tem sido a
justificativa central dos votos de milhares
de brasileiros. Historicamente, a corrupção
sempre foi um tópico sensível para o eleitor,
capaz de reativar um suposto sentimento cívico
e de dever moral da nação que batalha para viver
em um país melhor.
Nas campanhas de 1960, Jânio Quadros se valeu
da emblemática “vassourinha” como elemento simbólico
de combate à corrupção e foi eleito sob o pretexto
de solucionar a questão.
Mas será que os eleitores da época tiveram a
oportunidade de pensar se esse combate vinha
acompanhado de propostas e projetos políticos
econômicos que realmente iriam beneficiar o
Brasil? O que vem dentro do pacote do “combate
à corrupção”?
Ao longo da história, esse discurso atrativo,
sedutor e vazio vem acompanhado ou desacompanhado
de medidas realmente eficientes? No final das
contas, sabemos que o discurso difere da prática.
No caso de Jânio, ele foi exposto como corrupto
pela própria filha, apesar de ter se valido
dessa antiquíssima batalha moral para construir
uma imagem positiva.
Assim, o combate à corrupção vem sendo mobilizado
como uma solução para as mazelas sociais e políticas
do Brasil. Nos discursos eleitorais, a corrupção
aparece como a causa da decadência e fracasso
do país; as mazelas sociais, a desolação do
povo e o atraso são responsabilidades dela,
e não do funcionamento de uma estrutura socioeconômica
mais profunda.
Ou seja, anunciam a corrupção como uma causa
e não como uma consequência. Pela natureza dessa
lógica, não são a configuração do sistema e
a estrutura das relações sociais e econômicas
que reproduzem desigualdades, problemas sociais
e afins, mas sim o desvio de dinheiro público.
Nesse âmbito, o problema da corrupção, um tópico
tão necessário e importante, é sequestrado por
um combate falso e desvencilhado de projetos
políticos reais e coerentes.
Por isso, a indignação contra esse grave problema
deve ser estimulada junto de um entendimento
mais amplo e profundo sobre a política. Nos
últimos anos, testemunhamos um combate hipócrita
e parcial.
Numa sociedade de telecomunicações para massas,
até a indignação contra o desvio de dinheiro
é algo fabricado para beneficiar interesses
pré-determinados e se torna algo completamente
seletivo.
Ao invés de um repúdio generalizado da corrupção
e compra de voto como forma de governo, presenciamos
no Brasil contemporâneo um ataque seletivo que
visa desmoralizar um partido em específico.
Do mesmo modo que, na época de Jânio, o projeto
desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek teve
sua reputação prejudica pelo mesmo pretexto.
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Não
é segredo que Bolsonaro está envolvido em escândalos
de corrupção. Porém, a indignação contra os
esquemas criminosos que ele arquiteta não se
populariza.
Desde o orçamento secreto, em que o repasse
de recursos para o Congresso opera sem transparência
de como, onde e por quem o dinheiro será gasto
e utilizado, os esquemas de corrupção vêm sendo
institucionalizados.
Em relação aos crimes imorais e gananciosos
dos “homens de bem”, a nação continua deitada
em berço esplêndido, pois nenhuma revolta é
manifestada.
Para quem acompanha com rigor o mundo da política,
já está claro que o orçamento secreto é um mecanismo
de desvio dinheiro público e compra de voto,
uma forma de corrupção institucionalizada.
Esse assalto aos cofres públicos está sendo
responsável por um rombo de bilhões de reais,
o desvio de verbas desse esquema já envolve
inúmeras denúncias de corrupção.
Foi através do orçamento secreto que tratores,
equipamentos agrícolas, caminhões de lixo, ônibus
escolares, ambulâncias, puderam ser comprados
acima dos valores, num caso evidente de superfaturamento.
Com a verba desviada pelo orçamento, prefeituras
estão contratando empresas suspeitas de desvio
de dinheiro da saúde e educação e bancando fraudes
no SUS, e os políticos estão podendo negociar
compra de votos bilionárias.
Nesses três anos, esse esquema subtraiu R$ 65
bilhões de dinheiro público. Além disso, no
dia 5 de outubro de 2022, o presidente Bolsonaro
desviou mais R$ 10,5 bilhões de verbas que seriam
destinadas à saúde, ciência e educação para
agregar metade do valor ao “orçamento secreto”.
Parece que os “homens de bens” possuem certa
permissibilidade para perpetrar seus crimes
sem impedimentos. A imagem de corrupto, ladrão,
não se populariza quando diz respeito a um homem
“cristão, conservador, defensor da família e
cidadão de bem”.
Talvez se Bolsonaro fosse um político trabalhista
que luta por melhorias e avanços sociais, os
adjetivos negativos pegassem nele. A mídia não
repete à exaustão cada passo em falsos de um
político pró-sistema.
Não é isso que acontece, não há nenhuma cobertura
exaustiva da mídia sobre o assunto, não é atribuído
ao ato nenhum escândalo moral e os brasileiros
não são imbuídos de pânico pelo esquema. Há
omissão.
Quem defende o sistema sempre terá imunidade,
não importa o que faça, pois simplesmente há
uma estrutura de poder apoiando tal indivíduo.
Há uma permissibilidade social subentendida.
Por isso, Bolsonaro pode falar vários absurdos
e nunca ser responsabilizado (por exemplo, dizer
que vacinas causam Aids), ou até mesmo ser um
corrupto descarado sem ter a sua reputação prejudicada.
Já quem possui consciência social e de alguma
forma ameaça interesses dos poderosos, mesmo
que de forma tímida e limitada, sempre terá
suas falas e atitudes escrutinadas e analisadas
nos mínimos detalhes a fim de ser recriminado,
criminalizado e demonizado à exaustão.
Qualquer passo em falso é hiperbolizado, ampliado,
a fim de destruir a sua reputação. Dilma furou
o teto de gastos para financiar programas sociais
e sofreu um impeachment, Bolsonaro estourou
o teto em R$ 213 bilhões visando medidas eleitoreiras
e continua intacto, com 51 milhões de votos
no primeiro turno.
Fonte:
Le Monde Diplomatique Brasil, por Gabriel Dantas
Romano | 7 de outubro de 2022 |
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