Ipirá
tem uma área de 3.060,263 km2. Esse pedaço
de chão não cresce mais, nem que o GPS
queira, só pode diminuir. Você tem interesse
por Ipirá? Seu interesse é de rocha ou
de H? Estou procurando futucar uma discussão
sobre a realidade deste município. Não
é fácil, porque a maioria das pessoas
está com a cabeça vedada para esse assunto;
os ipiraenses estão, muito mais, preocupadas
com o número do sapato que irão calçar
no dia do pleito eleitoral municipal:
se 48 ou 49, não tem outra opção, nem
a da mais vaga esperança. Em alguns espertalhões
ficarão folgados; mas, na imensa maioria
do povão produzirá calo no pé e na vida.
Observe bem, a foto da Praça da Bandeira.
Representa a nossa tônica de urbanismo.
Nesse tempo, a luz vinha de um motor a
diesel, candeeiro e fifó eram alternativas;
a água vinha da caixa de Dé Fonseca ou
do chafariz, o pote de barro era a alternativa
para água da chuva; a comunicação mais
rápida era o telegrama dos Correios pelo
código Morse; as residências, em sua maioria,
tinham fossas, com uma base e um buraco
para as pessoas cagarem de cócoras, o
penico e cagar no mato eram alternativas.
Contava-se de dedos os veículos automotivos:
o Simca de seu Júlio Dantas, o caminhão
de seu Quincas, o caminhão de Zé de Jonas;
o FNM de seu Tote. Uma viagem de Ipirá
a Feira em estrada de chão consumia cinco
horas cortando costela de vaca e dando
pinote em buraco. A maconha não tinha
chegado por estas bandas.
As políticas públicas do Estado trouxeram
as mudanças que o município necessitava:
a água veio do Paraguaçu; a luz procedeu
de Paulo Afonso; chegou o telefone fixo;
a estrada asfaltada do Feijão cortou o
município.
Pelas políticas públicas municipais apareceu
o Ginásio “do Cenec”; a urbanização foi
contemplada com o calçamento e o jardim
de flores em sua praça; a rede de esgoto
teve as suas primeiras linhas no centro
da cidade.
A modernidade se encarregou do restante:
saímos da boca do buraco da fossa, quando
o vaso sanitário apareceu para prestar
um serviço sanitário essencial na questão
da saúde e higiene; não dava mais para
contar com os dedos a quantidade de veículos
motorizados que tinha na cidade; a maconha
invadiu a cidade.
Você pode achar que essas mudanças aconteceram
devido ao pedido de alguma liderança sagrada
ou por obra de uma benção divina e que
Ipirá é uma sociedade abençoada, de pessoas
de bem e são recompensadas com o desenvolvimento.
Não é bem por aí. As políticas públicas
de um Estado populista atendiam as demandas
municipalistas e provocavam mudanças cabíveis
no espaço e no tempo. A roda do século
XIX não fez o século XX andar.
O século XXI deixou para trás o séc. XX.
Ipirá tem energia em toda zona rural,
mas é insuficiente para dar suporte a
um empreendimento mais robusto que necessite
de muita força motriz; tem água em vários
povoados, mas não tem água na torneira
todo dia e o dia todo; tem estrada asfaltada
com uma buraqueira de estrada de chão;
está pistiada com a comunicação pelo celular
e via Internet, o povo está ficando mais
modernizado; tem uma fábrica de calçados,
mas não atendeu à solicitação de mais
um galpão; não conseguiu concluir sua
rede de esgoto por obra da quebradeira
do Estado; Ipirá tem 14.688 veículos motorizados
(2015), vai faltar estacionamento; não
tem faculdade; não tem IFBA; mas tem maconha,
cocaína, crack e tem muito carro de som
numa altura de trovão para desrespeitar
os direitos da maioria da população.
Você pode achar que as mudanças não acontecem
devido à falta de um pedido de alguma
liderança iluminada ou por este município
não ter a bênção divina e a sociedade
ser formada por pessoas más, que têm de
padecer do castigo da escassez de obras.
Não é bem por aí. As políticas públicas
de um Estado que não atende às demandas
municipalistas e não provocavam mudanças
necessárias no espaço e no tempo são causas
mais reais. Querem fazer a roda do século
XXI andar com a roda do século XX.
Nosso grande problema está nas políticas
públicas do Estado, com resquícios neoliberal,
que contaminaram até o ar que se respira.
O Estado está em situação de quebradeira.
Não tem recurso sobrando, com dinheiro
curto só investe onde tem retorno, de
preferência capital e pólo produtor.
São doze obras prioritárias no Estado,
(nenhuma em Ipirá) como o Metrô de Salvador
e a ponte Salvador / Itaparica que nem
começou por falta de grana. Ipirá é produtor
de quê? É pólo de quê? Esse negócio de
pólo coureiro é invencionice, temos é
uma manufatura secular e necessitando
de apoio concreto, não de conversa mole.
Assim sendo, para o nosso desespero, vamos
ser realistas, Ipirá não consta na agenda
do governo do Estado.
Ipirá não existe para o Estado? Existe,
como área de contenção populacional. Não
deixar acontecer o êxodo para os grandes
centros e evitar problemas para eles lá.
Para cá, a coisa é canalizada para as
condições mínimas, com o objetivo de fixar
as apessoas aqui, com moradias populares,
creches e matrículas escolares, uma saúde
precária e insuficiente, mas, de forma,
a não deixar as pessoas escapulirem. Na
zona rural, a energia, a residência rural,
cisternas, quatro ovelhas e um carneiro
para manter o homem preso à terra. A sobrevivência
sendo mantida por aposentadoria e programas
assistenciais. Assim, fica mais barato.
O investimento no desenvolvimento requer
muito mais recursos e é libertador das
mentes e corações.
Aí o bicho pega. Ipirá ficou num mato
sem cachorro? Não, Ipirá está entregue
ao poder municipal, ao povo de Ipirá e
de quem queira investir nestas bandas.
E as autoridades desta província? Estão
achando que vão resolver o problema de
Ipirá pegando uma fita do locutor e entregando-a
ao governador: “Ouça o que ele fala de
V. Exa!” e o governador zangado e revoltado
vai fazer tudo por Ipirá. Quanta bobagem!
O Territorio Bacia do Jacuipe tem mais
valor na agenda governamental do que Ipirá
e recebe as coisas que necessita por conta-gotas
e pulverizadas. Ipirá não vai receber
UTI, Samu, faculdade, asfalto. Ipirá vive
de conversa fiada. Isso não tem consistência.
Depois de tudo isso exposto, vamos a uma
terceira pergunta bem simples aos candidatíssimos
Aníbal Ramos e Marcelo Brandão: No ponto
de vista dos senhores candidatíssimos,
qual é a grande ou média obra que o poder
público municipal poderá fazer, com recursos
próprios, em nosso município na sua gestão?
Se o poder municipal não tiver nenhuma
condição para tal, significa que Ipirá
está entregue a sua gente e aos que enxerguem
esta terra como promissora. Infelizmente,
a grande maioria da população está e vai
continuar com o sapato apertado fazendo
calo, mas aliviada com a ilusão de que
estamos entrando no paraíso. Coisas da
cabeça.
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