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                            |   | 
                           
                           
                            |   Ivan 
                                Martins e Francine Lima. Com reportagem de Laura 
                                Lopes   | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                            Isso 
                                explica por que ainda não existe um Viagra feminino: 
                                ele seria inútil, já que a libido das mulheres 
                                não é vascular. Meredith vai mais longe. Ela especula 
                                que a lubrificação vaginal talvez seja apenas 
                                um artefato evolutivo “para reduzir o desconforto 
                                e a possibilidade de ferimentos” durante a penetração. 
                                Não teria nada a ver com prazer e satisfação sexual, 
                                muito menos seria sinônimo de sinal verde. “Eu 
                                vivo repetindo a meus alunos que estar molhada 
                                não significa ter consentido em fazer sexo”, diz 
                                ela.   | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                            |  
                               A 
                                lubrificação vaginal 
                                talvez seja um artifício  
                                evolutivo para impedir que a mulher se machuque  | 
                           
                           
                             | 
                           
                           
                            |    Esse 
                                tipo de generalização extraída do laboratório 
                                reflete a realidade das mulheres? Eis uma pergunta 
                                que o psicólogo Ítor Finotelli Júnior, terapeuta 
                                sexual na cidade de Campinas, em São Paulo, acha 
                                difícil responder. Ele examinou o estudo de Meredith 
                                a pedido de ÉPOCA e faz uma ressalva: a amostragem 
                                limitada. “O número de voluntários não é razoável. 
                                Você precisa de umas 200 ou 300 pessoas para extrair 
                                conclusões confiáveis”, diz ele. Meredith trabalhou 
                                com 47 mulheres. Outra complicação é a ausência 
                                de informação sobre as voluntárias. Qual a idade, 
                                qual a classe social, qual a etnia ou a cultura 
                                das mulheres estudadas por Meredith? Ele dá um 
                                exemplo prático da limitação dessas investigações. 
                                Seu grupo de trabalho acaba de concluir um estudo 
                                de 200 pacientes (homens e mulheres) sobre fantasias 
                                autoeróticas. Descobriu que as mulheres se excitam 
                                recordando cenas de sexo com os parceiros, enquanto 
                                os homens recorrem a fantasias com “mulheres atraentes”. 
                                “Mas isso é válido apenas para pessoas de classe 
                                média alta, com curso universitário, que moram 
                                em São Paulo e procuram auxílio psicológico”, 
                                diz ele.   | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                             
                              
                                 
                                    | 
                                  
 Um 
                                      dos indicadores de que a pesquisa de Meredith 
                                      chegou perto do alvo é que a sua conclusão 
                                      mais espetacular – a separação entre o corpo 
                                      e a mente sexual das mulheres – não surpreende 
                                      tanto assim os especialistas, sobretudo 
                                      as mulheres que conhecem a intimidade das 
                                      outras mulheres. “Os homens sabem o que 
                                      têm de sentir; as mulheres, não”, diz a 
                                      psicanalista Diana Corso, de Porto Alegre. 
                                       
                                       
                                      “As mulheres querem ser queridas, desejadas, 
                                      aceitas. Elas se confundem quando têm de 
                                      explicar o seu próprio desejo.” Essa percepção 
                                      sobre a relativa passividade do desejo feminino, 
                                      da sua dependência, está cada vez mais presente 
                                      na literatura sobre sexualidade. Meredith 
                                      Chivers  
                                         | 
                                 
                                 
                                  ATÉ 
                                    TU, SÍMIO  Bonobos 
                                    em um momento de atividade sexual. O que eles 
                                    fazem não deixa as mulheres indiferentes 
                                   | 
                                 
                                | 
                           
                           
                            fala 
                                 do  “poder  de  ser  
                                desejada”   como um   dos 
                                componentes mais fortes do desejo das mulheres, 
                                uma área que ela deseja estudar no futuro. Outra 
                                pesquisadora citada na reportagem do New York 
                                Times, Marta Meana, da Universidade de Nevada, 
                                sustenta que o desejo feminino depende diretamente 
                                da urgência demonstrada pelo homem. “Para as mulheres, 
                                ser desejada é o orgasmo”, diz ela. É por isso, 
                                afirma, que relações estáveis, duradouras e... 
                                mornas, tendem a “esfriar” as mulheres.   | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                            |  
                               O 
                                 desejo feminino 
                                parece depender diretamente da  
                                urgência demonstrada pelo homem em copular  | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                            Como 
                                ocorre com muitos elementos da vasta e contraditória 
                                psique humana, há consequências perversas na opção 
                                sexual das mulheres pelo prazer do outro. Uma 
                                delas é a divergência entre o que o corpo diz 
                                e o que a mente ouve, capturada no estudo de Meredith. 
                                A outra, perturbadora, é a fantasia do estupro. 
                                Os especialistas pisam em ovos ao falar sobre 
                                isso, mas o fato é que as mulheres têm fantasias 
                                recorrentes de serem submetidas pela força. Por 
                                trás disso, encontra-se, aparentemente, a ilusão 
                                narcisista (e excitante) de ser tão atraente, 
                                tão irresistível, que os homens seriam incapazes 
                                de conter sua luxúria. “As fantasias de estupro 
                                são muito mais recorrentes do que as pessoas imaginam”, 
                                diz o terapeuta Finotelli. Isso quer dizer que 
                                essas mulheres gostariam de ser estupradas? Não. 
                                Não. E, mais uma vez, não. Trata-se de uma fantasia 
                                íntima que dispara desejos sexuais. Ela não esconde 
                                a vontade oculta de sofrer a violência sórdida 
                                de um estupro. “As mulheres querem ser encostadas 
                                no muro, mas não colocadas em perigo”, diz Marta 
                                Meana. “Elas querem um homem das cavernas atencioso”. 
                                Quem seria capaz de cumprir tal papel? “Denzel 
                                Washington”, responde a pesquisadora. “Ele transmite 
                                esse tipo de poder e é um bom homem”. O.k., vai. 
                                   | 
                           
                           
                            |   | 
                           
                           
                             
                                 
                                    | 
                                   
                                     Ao 
                                      preconizar a divisão radical da libido das 
                                      mulheres entre mente e corpo, os novos estudos 
                                      de sexualidade criam um dilema. Se essa 
                                      divisão expressa a natureza profunda das 
                                      mulheres, então há nas fêmeas da espécie 
                                      humana um duplo comando sexual. De um lado, 
                                      o corpo, capaz de demonstrar excitação até 
                                      mesmo durante um estupro, como forma de 
                                      proteção. Do outro, a mente, dividida entre 
                                      fantasias de prazer arriscado e a necessidade 
                                      emocional de intimidade e proteção. Se essa 
                                      duplicidade corpo-mente for de fato a realidade 
                                      feminina, há simplesmente de entendê-la 
                                      e adaptar-se a ela. Uma tarefa para homens 
                                      e mulheres. Mas existe a possibilidade de 
                                      que essas constatações reflitam apenas o 
                                      passivo cultural e psicológico das fêmeas 
                                      da linhagem humana. Elas são submetidas 
                                      ao controle sexual dos machos desde o Paleolítico 
                                      (há dois milhões de anos) e apenas nas últimas 
                                      três ou quatro décadas foram emancipadas, 
                                      parcialmente. “A terrível realidade dos 
                                      estudos  
                                      | 
                                 
                                 
                                  TROGLODITA 
                                    AFETUOSO  Pesquisadora 
                                    diz que o ator Denzel Washington simboliza 
                                    o ideal feminino de força e carinho | 
                                 
                                 
                                  psicológicos 
                                      é que você não consegue separar o 
                                      que é cultural do que é 
                                      biológico”, diz Meredith. Ainda bem, já 
                                      que a nossa vida se passa simultaneamente 
                                      nas esferas biológica e cultural. 
                                       
                                       Mas, 
                                      o que fazer diante do dilema? Carmita Abdo, 
                                      professora da Universidade de São Paulo 
                                      e médica do Hospital das Clínicas de São 
                                      Paulo, uma das mais respeitadas especialistas 
                                      brasileiras em sexualidade humana, prefere 
                                      trabalhar com a hipótese terapêutica. Ela 
                                      sugere, por exemplo, que a mulher fique 
                                      atenta aos sinais genitais, como uma forma 
                                      de intensificar seu próprio desejo. As pesquisas 
                                      mostram que as mulheres têm muito mais dificuldade 
                                      que os homens em perceber as próprias alterações. 
                                      Finotelli exemplifica com um fato singelo: 
                                      diz que é muito comum que as mulheres mais 
                                      inibidas expliquem o eventual intumescimento 
                                      dos mamilos como “frio”, mesmo quando a 
                                      temperatura ambiental e subjetiva está muito 
                                      elevada. É apenas natural que essas mulheres 
                                      não reconheçam os sinais de excitação genital 
                                      e nem se deixem carregar por eles, como 
                                      fazem os homens. Esse é o terreno em que 
                                      a informação pode ter uso terapêutico, no 
                                      qual as pesquisas podem servir como guia. 
                                      Essa é a especialidade de pessoas como Carmita. 
                                      Quanto à atávica dificuldade em explicar 
                                      o que querem, afinal, as mulheres, ela dá 
                                      de ombros. “A quem interessa responder essa 
                                      pergunta?”, diz a médica. “A dúvida é que 
                                      mantém o interesse por elas”. Touché.   | 
                                 
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