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Um
dia na locadora - (crônica)
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Platiny
Mascarenhas |
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É
domingo. Duas da tarde de um domingo. Dia
pacato. Cidade pacata.
Entra o primeiro cliente do dia na locadora
do Orlando.
- Ôpa!
- Boa tarde!
- Ô moço, eu quero um filme bem
“porradão”! – e começa
a olhar em volta.
Após uma análise rápida
do cidadão, com direito a uma olhadinha
por cima dos óculos e tudo mais, Orlando
ponderou:
- “Porradão”? Como assim
“porradão”?
- Haaaaaa... “porradão”!
– o cliente já consultando a
prateleira, |
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procurando um filme do estilo “porradão”
pra se livrar da explicação.
Orlando ri meio sem graça – e sem
palavras:
- Bem...
- Tipo... “porradão” do início
ao fim! Bem... Pode ser comédia... Éééé...
Esse! Esse parece que é bom! Adoro comédia!
Orlando olha o filme que ele escolheu, olha mais
uma vez pro cliente... olha pro filme... pro cliente...
respira fundo e:
- Bem... Esse é sim! Muito bom! Mas...
esse filme é de terror! Tá aqui
ó: “Um filme que revolucionou o terror!”,
leu o Orlando – até hoje ele se pergunta
o porquê que ele achou que “O Iluminado”,
filme baseado num livro do Stephen King, fosse
um filme de comédia! “Deve ter pensado
que o Jack Nicholson estava rindo em vez de rangendo
os dentes na foto da capa!”, pensa inconsolado.
- Terror! Vixe! Terror! Não, terror não!
Deus me livre! “Porradão”,
eu quero um porradão!
- ...! – pasma o Orlando.
- Bem... – o cliente chega na sessão
de filmes do Bruce Lee. - Aqui! É esses!
“Porradão”! Aqui sim! Esses
é “porradão”. Tem do
Van Dhãime?
- Quem?!
- O Van Dhãime?!
- Haaa... sim... o “Van Dhãime”!
Tem sim. Esses atrás de você.
- Isso, isso! Ele mesmo! Qual é o mais
“porradão” dele?
- Bem... “porradão”...? –
Orlando se aproxima do cliente, como que para
procurar o mais “porradão”
na prateleira. - Ééé... o
mais alugado é esse aqui: “A Colônia”.
- “A Colônia”...! Esse deve
ser “porradão”, não
é?
- Deve ser... é o mais alugado.
- Como assim “deve ser...”? O senhor
nem viu esse filme?
- Já! É que...
- Vou levar!
A sensação de alívio (“ufaaaaaa”!)
que tomou o Orlando foi interrompida quando o
coitado percebeu a palavra “legendado”
na capa do filme. E agora? O seu novo cliente
parecia ter “Odeio legendas” tatuado
na testa! “E agora? E agora? Conto ou não
conto?”- pensou. “Do que adianta pensar,
refletir, analisar, pesar, blábláblá,
essa masturbação mental toda, se
a prática é mais nula do que nunca?”,
já diziam José Alberto Lins e Leonardo
Nunes:
- Mas... esse filme é legendado. Tudo bem?
- E eu vou ler ou assistir? Eu quero é
ver filme, moço! Se eu quisesse ler eu
alugava um livro!
Orlando:
- ...!
- Era o que me faltava! O senhor não sabe
nem o que é um filme “porradão”
e ainda quer que eu pegue filme pra ficar lendo.
Era o que faltava, viu!! – e saiu indignado.
Orlando:
- ...!
Não abriu mais a locadora aos domingos
e viveu feliz para sempre!.
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